quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Resenha:O Ódio Que Você Semeia


Livro:O Ódio Que Você Semeia
Autora:Angie Thomas
Páginas:378
Editora:Galera Record
Tradução:Regiane Winarski




Sinopse

Starr aprendeu com os pais, ainda muito nova, como uma pessoa negra deve se comportar na frente de um policial.
Não faça movimentos bruscos.
Deixe sempre as mãos à mostra.
Só fale quando te perguntarem algo. 
Seja obediente.
Quando ela e seu amigo, Khalil, são parados por uma viatura, tudo o que Starr espera é que Khalil também conheça essas regras. Um movimento errado, uma suposição e os tiros disparam. De repente o amigo de infância da garota está no chão, coberto de sangue. Morto.
Em luto, indignada com a injustiça tão explícita que presenciou e vivendo em duas realidades tão distintas (durante o dia, estuda numa escola cara, com colegas brancos e muito ricos - no fim da aula, volta para seu bairro, periférico e negro, um gueto dominado pelas gangues e oprimido pela polícia), Starr precisa descobrir a sua voz. Precisa decidir o que fazer com o triste poder que recebeu ao ser a única testemunha de um crime que pode ter um desfecho tão injusto como seu início.
Acima de tudo Starr precisa fazer a coisa certa.
Angie Thomas, numa narrativa muito dinâmica, divertida, mas ainda assim, direta e firme, fala de racismo de uma forma nova para jovens leitores. Este é um livro que não se pode ignorar.





Oi gente!Como vocês estão?Vamos voltando então a rotina normal pós carnaval,ou seja,hora de voltar a trabalhar,mas já com a cabeça nas férias hahahahahaha.
Tinha ideia de fazer outro tipo de postagem hoje,mas me bateu uma vontade de conversar com vocês sobre um livro que eu tenho certeza que é extremamente necessário:O Ódio Que Você Semeia,da autora Angie Thomas,publicado aqui pela editora Galera Record.
E por que resolvi falar desse livro assim de repente?Vamos conversar um pouco disso mais no final da postagem.Por ora,vamos com a resenha.




Starr é uma jovem que vive com os pais.Ela é negra,em algumas situações precisa agir e parecer como se não fosse.Não porque ela não tenha orgulho de ser quem é,mas porque é mais fácil conviver com as outras pessoas,muto embora não seja fácil a maior parte das vezes para ela mesma.
Ela aprendeu desde muito novinha junto com seus irmãos que existem algumas "regras" de comportamento que ela precisa seguir na frente de qualquer policial:seja obediente,só fale quando perguntarem algo,não faça movimentos bruscos,deixe as mãos sempre a mostra.E ela cresceu sempre com essas "regras" em mente.
Um dia,em uma festa,ela acaba reencontrando seu grande amigo Khalil que há muito tempo não vê.Eles começam a conversar e resolvem ir embora.Khalil resolve oferecer uma carona,só que ele não esperava o que estava por vir.
Eles são parados por um policial,que não está afim de brincadeiras e está a todo custo querendo culpá-los por alguma coisa,mesmo não tendo motivo.Ao ver Khalil se virar e perguntar se ela está bem,Starr só ouve o tiro:Khalil está morto.
Ela passa os dias assutada,mas sabe que precisa fazer alguma coisa.Só não sabe se tem a coragem necessária para se fazer ouvir por justiça.Só ela tem o poder.
Seria melhor esquecer o que aconteceu e seguir em frente ou abrir a boca e enfrentar o que viesse em nome da justiça ao nome do seu amigo?


"Mas é engraçado como funciona com os adolescentes brancos.É maneiro ser negro até ser difícil ser negro."


Existem livros e existem ensinamentos.Ensinamentos daqueles de dar um tapa na cara de toda a sociedade,que deixam o leitor de boca aberta com tamanha coragem,verdade e realidade das palavras nas páginas.A realidade não é bonita sempre,muitas vezes ela é cruel e injusta,mas podemos lutar para ser ouvidos e lutar contras as injustiças.
O Ódio Que Você Semeia é um desses livros.A autora em poucas palavras consegue passar para o leitor o sentimento de impotência,o preconceito gratuito que as pessoas sofrem simplesmente por serem o que são.

"Ter coragem não quer dizer que você não esteja com medo,Starr - diz ela - Quer dizer que você segue em frente apesar de estar com medo."


Starr é uma jovem que não tem problema em se dizer negra,mas em muitas situações ela precisa abrir mão disso para ser o que a sociedade deseja e não o que ela é.Isso é visto claramente no convívio dela dentro da escola.
Após a morte do amigo,ela abraça aquela situação,se diminuindo,se recolhendo dentro de si mesma ao invés de se fazer ouvir.E a partir daí vamos vendo a evolução da personagem.E essa evolução é como se ela tirasse uma máscara e visse a realidade da maneira como ela é,ou seja,o mundo é cruel,injusto,preconceituoso......e ela precisa enfrentar isso ou ser engolida pelas situações.


"Esse é o problema.Nós deixamos as pessoas dizerem coisas,e elas dizem tanto que se torna uma coisa natural para elas e normal para nós.Qual é o sentido de ter voz se você vai ficar em silêncio nos momentos que não deveria?"


Essa transição da Starr é feita de uma forma muito direta pela autora.São palavras até muitas vezes duras,mas que servem ao objetivo de dar uma chacoalhada nela.
A escrita da autora em geral é muito direta,é como se ela estivesse cara a cara com você,olhando olho no olho e contando algo que aconteceu com ela ou com alguém conhecido.E contando sem passar a mão na cabeça,mostrando exatamente como a vida muitas vezes é.
Um personagem que me chamou muito a atenção foi o namorado da nossa personagem principal,Chris,que ao longo da trama demonstra uma força,apoio incondicional e um amor que vai além de tudo e de todos.
Esse romance deles vai sendo bem trabalhado e costurado,mas está longe de ser o principal da história.Ajuda sim e muito a nossa personagem nesse fase de transição e descobrimento dela mesma,mas não é o foco da história.


"Esse é o ódio que estão semeando,filha,um sistema elaborado contra nós.Essa é a vida bandida,a vida marginal,a Thug Life."


Vamos encontrar muitas referências a cultura negra americana,principalmente na parte musical e em seriados também,principalmente com The Fresh Prince Of Bel Air (mais conhecido como Um Maluco No Pedaço,série que consagrou Will Smith).Às vezes a autora acabou exagerando na frequência dessas referências,mas não atrapalhou no conjunto da história.
A relação familiar é super importante ao longo do livro e desde a primeira página vamos vendo isso.A família de Starr é muto unida e poderia não ter sido assim,afinal seu pai é um ex presidiário.Ele conseguiu dar a volta por cima,conseguiu ter um comércio,mas é claro que muitas pessoas que conhecem seu passado vão olhar pra ele com aquele olhar de julgamento.
Vemos também claramente como funciona o poder das gangues, do crime organizado dentro do espaço comandado por elas.E a autora mostra que mesmo eles tendo poder,o nosso poder de falar,de se rebelar é maior que todos juntos.


"Às vezes você pode fazer tudo certo,e mesmo assim as coisas dão errado.O importante é nunca parar de fazer o certo."


A escrita da Angie é dura,mas ao mesmo tempo carrega uma leveza,uma mistura de sentimentos,faz com que os leitores tenham uma empatia muito grande pelas situações e pelos personagens.Sem falar que tudo pelo que a Starr passa,nos leva a uma reflexão de nossos próprios atos,afinal,quem já não ficou desconfiado,mesmo que involuntariamente quando entra um rapaz negro no ônibus?É um pensamento muito ruim,mas que infelizmente acabamos tendo em muitas situações e em várias partes a autora consegue nos levar a fazer reflexões disso,nos questionar,mostrar o quanto somos preconceituosos no dia a dia mesmo sem perceber.E a mensagem de que não devemos desistir,não devemos nos calar,que precisamos mostrar a nossa força é uma lição que temos que levar pra vida.É impressionante o quanto conseguimos aprender com a Starr em tão pouco tempo.Ela não é perfeita,longe disso,mas também não somos e isso tudo só nos faz sentir mais próximos dela.


"Isso quer dizer que o ódio que a sociedade nos dá quando somos pequenos morde a bunda dela quando crescemos e ficamos doidos.Entendeu?"


Pra finalizar,O Ódio Que Você Semeia é uma leitura obrigatória,que vai fazer você refletir,vai fazer você se indignar,se revoltar,se emocionar,questionar o ser humano,se tornar mais empático e como criarmos pessoas mais empáticas.Ódio só gera mais ódio,preconceito só gera mais preconceito.Afinal,como Khalil diz através da música Thug Life,"The Hate U Give little infants fucks everybody". (O ódio que você passa para as criancinhas fode com todo mundo).
Só digo uma coisa:leiam!




Bom gente,foi uma resenha com muito sentimento e intensidade,mas não poderia ser diferente,esse livro pede uma resenha assim.Não estava nem planejando resenhá-lo por agora,não tinha muita certeza de como abordaria ele aqui,mas como disse,senti uma tremenda necessidade de falar dele com vocês.E isso se deve a um fato que presenciei no ônibus que me deixou extremamente revoltado.
Sentado do meu lado tinha um cara de calça jeans e camiseta,devia ter uns 25 anos,por aí,negro e tatuado nos dois braços inteiros,ouvindo sua música tranquilamente e lendo um livro.No banco da frente tinha uma senhora com a filha pequena de uns 4 ou 5 anos.Essa senhora não tirou o olho do cara desde que ele entrou no ônibus,toda hora ficava olhando pra onde ele estava sentado.Aquilo começou a me incomodar,mas fiquei na minha.Até que a senhora não se conteve e puxou assunto com uma jovem que estava no banco do lado.Palavras dessa senhora:"Agora você vê,negro e tatuado,vestido dessa maneira,deve estar fingindo ler um livo pra disfarçar e assaltar o ônibus,estou de olho nele." falando alto pra quem quisesse ouvir.Só que o rapaz nem se tocou por causa do fone e nisso a senhora continuou falando um monte de besteiras preconceituosas que nem vale a pena relatar aqui.Quando fui olhar pro rapaz pra ver se ela tinha consciência do que estava acontecendo,reparei no livro que ele estava lendo:era um livro de direito.Toquei no ombro dele e perguntei se ele estava indo pra faculdade.Ele disse que sim,era dia de prova.Pedi se ele poderia me emprestar o livro um pouco.Fui até onde a senhora estava sentada e falei:"Desculpa,foi difícil não ouvir o que a senhora estava gritando pra todo mundo do ônibus ouvir,mas por um acaso a senhora conhece o rapaz?Sabe o que ele faz da vida,pra onde ele vai?Não que seja da sua conta,mas o rapaz está indo pra faculdade fazer uma prova e o livro é justamente o material de estudo dele.Esse livro inclusive pode fazer com que ele processe a senhora,sabia disso?Ao invés de perder tempo falando absurdos que a senhora nem sabe se são verdades,deveria se preocupar em dar o exemplo pra sua filha."
Depois que falei isso tudo pra ela a senhora começou a me xingar,falar alto,mas não quis dar audiência pra ela,já tinha dado o meu recado e ela depois de me xingar ficou quieta no canto.
O rapaz ficou muito assutado porque nem tinha noção do que estava acontecendo,mas quando falei tudo ele me agradeceu de verdade,disse que já não era a primeira vez que alguém falava assim dele e por isso sempre andava com o fone de ouvido no volume máximo.
Aquilo tudo me deixou com um sentimento de ter feito o certo,mas também com um sentimento de revolta extremo.Achei importante relatar pra vocês.

Por que contei essa história pra vocês?Acho que esse é o tipo de situação onde não podemos ignorar.Não podemos tolerar certas coisas,mesmo que não seja diretamente com a gente,mas indiretamente acaba sendo.A filha da senhora estava ouvindo todos os absurdos que ela estava falando e com certeza vai acabar aprendendo esse comportamento preconceituoso,o pré conceito infelizmente.E é aí que esse preconceito só aumenta,passando de pai pra filho e por aí vai.
Essa senhora perdeu uma grande oportunidade de dar uma lição valiosa pra filha,mas preferiu infelizmente dar um show de intolerância.
Vamos pensar nisso e nos colocar no lugar do outro.Hoje foi com esse rapaz,mas poderia ter sido comigo ou com qualquer um de vocês.Empatia sempre!
Galerinha por hoje é só,espero que tenham gostado da resenha.Não esqueçam de comentar o que acharam,se gostaram....vamos falar mais sobre o livro nos comentários.
Vou indo nessa,até a próxima postagem!
Grande abraço!

8 comentários:

Na Nossa Estante disse...

Oi Claúdio, eu amei sua resenha e achei bem triste com seu relato. De fato, não dá ignorar e fingir que não é nada e o tema do livro ajuda bastante em nossas reflexões. Eu ainda não li, mas está na minha lista de leituras!

Bjs, Mi

O que tem na nossa estante

Luli Ap. disse...

Olá Cláudio
Esse livro é um dos próximos na minha lista, fiquei ainda mais instigada com sua resenha.
Uma escrita que deve ser ao mesmo tempo dura mas necessária.
Impactante e que traz voz e força a protagonista para ser inspiração, reflexão e transformação.

Fiquei triste com seu relato e pelo que aconteceu.
Acho um absurdo, uma coisa inadimissivel uma cena dessas nos dias de hoje.
Que tipo de pessoa é essa senhora?
Um ser humano que pratica a injustiça, a maldade, o preconceito e ainda transmite esse conceito horrível para a filhinha pequena que quando crescer vai agir talvez da mesma maneira indigna.
Sinceramente eu acho que pessoas assim deveriam estar presas para não disseminarem ainda mais ódio que já existe nesse mundo.
E parabéns Cláudio por sua postura e atitude.
Devemos sim reagir e não podemos ignorar.

Bjs Luli
https://cafecomleituranarede.blogspot.com.br

Caverna Literária disse...

Oi, Cláudio!

Quero muito ler esse livro, já tinha consciência de seus ensinamentos e reflexões transmitidas, mas sua resenha deixou mais claro o quão importante essa obra é para que a sociedade se dê conta dos julgamentos errados que faz. Fiquei chocada com o que você presenciou no ônibus, e admirada pela sua coragem em ir até a senhora e falar poucas e boas. O mundo é preconceituoso demais.

xx Carol
Estou promovendo um Booktour do meu livro chamado O Poder da Vingança, vem se inscrever pra participar!
http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

DIVAGANDO PALAVRAS disse...

Oi Cláudio.

Esse livro assim como sua história nos deixa muitos ensinamento.
Temos que lidar que preconceito sim ainda existe, em algumas pessoas mais expostos em outras mais camufladas...
Quero muito ler esse livro, com certeza é uma história que nos transforma como pessoa.
Beijos

Divagando Palavras
www.divagandopalavras.com

Cláudio Cabral disse...

Oi Mi!
Fico feliz que tenha gostado!
Infelizmente esse tipo de situação acontece muito mais do que a gente imagina.É triste sabermos que existem pessoas assim,mas ainda bem que existem livros assim que nos alertam,nos mostram a realidade e que podemos sim fazer a diferença.
Depois me diz se gostou do livro!
Beijos1

Cláudio Cabral disse...

Oi Luli!
Lê sim,é um relato forte,real,mas extremamente necessário.
É triste acompanharmos pelo que a protagonista passa.Mas tudo isso serve de reflexão pra todos nós.
Infelizmente isso acaba conhecendo muito mais do que pensamos.Os filhos acabam presenciando esse tipo de situação,vão achar que os pais estão corretos e vão crescer com esse tipo de pensamento e assim por diante.Isso vale pra racismo,homofobia,violência.....mas também serve pra humildade,amor,empatia e solidariedade,coisas que devemos sempre mostrar e dar o exemplo.Se ódio gera mais e mais ódio,amor também só vai gerar mais amor e é assim que precisamos pensar e agir.
Por mais livros assim!
Beijos!

Cláudio Cabral disse...

Oi Carol!
Sério,vale muito a pena.Sei que muitas pessoas elogiaram,mas não imaginava que fosse ser tão impactante assim.
É o tipo de livro pra ser abordado nas escolas,pra ser discutido e debatido sempre.
Esse tipo de cena que presenciei foi apenas uma entre tantas e tantas que acontecem à nossa volta,mas muitas vezes nem percebemos.O mundo é preconceito demais e muitas vezes nem se dá conta disso,achando que é normal,isso que é pior.
Mas enfim,ainda acredito no poder da empatia e na força do amor entre as pessoas,quem sabe um dia teremos um mundo melhor né
Beijos!

Cláudio Cabral disse...

Oi Aline!
Muitos e muitos ensinamentos mesmo.
Existe e existe muito.Tem pessoas que nem mesmo tem consciência de que são preconceituosas,mas o preconceito está ali enraizado.
Sim,super recomendo a leitura,com certeza é daquele tipo de livro que nos faz pensar e refletir em muitas coisas!
Beijos!

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